Irá x Totí: estratégias para uma adaptação longa e difícil (Parte II)

Com o coração cheio de amor, paciência e esperança, renovados pelo poder da calma e da informação, reiniciei o processo de adaptação entre minhas gatinhas. Desta vez eu iria fazer tudo sem pressa, observando todos os sinais e detalhes que me indicassem com segurança se seria ou não possível avançar para o próximo passo. Aceitei o fato de que a evolução é muitas vezes milimétrica e avançar mais do que o ritmo das gatas permitia, significaria andar para trás. Não foi fácil viver dividida entre os dois lados do portão, mas eu sabia que, quanto mais eu me esforçasse naquele momento, menos tempo isso tudo poderia durar.


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#1

À medida que eu sentia que tudo estava bem, ia avançando lentamente os passos dos exercícios de adaptação. Mantínhamos uma rotina rígida de horários e atividades e eu observava atentamente cada detalhe da evolução.

#2

As gatinhas passaram a viver num esquema de “rodízio” entre o quarto e o resto da casa. Ao mesmo tempo que Totí cresceu e eu já não conseguia mais mantê-la isolada, Irá parecia ficar muito tranquila e segura dentro do recinto, então resolvi tentar a troca. Irá ficou isolada e Totí pôde aproveitar a casa com o irmãozinho.

#3

Durante o isolamento de Irá eu aproveitei para me aproximar de minha Princesa. Começamos, finalmente, a construir uma relação de carinho e confiança! Por outro lado, confesso que terminei me afastando da convivência que tinha com Totí, deixando-a sob os cuidados e carinhos de Jaguá.


(Veja aqui a primeira parte deste post)

Totí voltou a ficar totalmente isolada do contato com Irá. Depois de alguns dias fazendo os exercícios de estímulos olfativos, percebi que Irá já aceitava comer sobre o paninho impregnado com o odor de Totí. Ela ia direto para o pratinho, não ficava mais farejando detalhadamente o pano e decidindo se ia comer ou não. Então decidi que era hora de avançar para os exercícios de alimentação em conjunto através da porta, mas sem contato visual.

Adaptação Difícil II - Totí
Totí tranquila em seu mundinho

Do lado de cá da porta, Totí ficava um pouco apreensiva, mas a presença do seu irmão ou a minha lhe transmitiam segurança e ela conseguia comer. Do lado de lá, Irá ficou um pouco relutante, mas também foi, aos poucos, relaxando e se alimentando. Esse processo durou cerca de uma semana. Quando todos foram capazes de se interessar totalmente pela comida e não mais pela situação, me senti segura em avançar mais um passo. 

Retirava a proteção visual do portão durante a refeição e, com todos se vendo, acompanhava as reações. Ao final do exercício, a barreira voltava para o lugar. Irá ficou um pouquinho inquieta nos primeiros dias. Eu tentava sempre deixar um clima mais positivo para ela, com as nossas cantigas e carinhos. Com o passar do tempo, ela foi cedendo. Em mais alguns dias, todos comiam juntos e com total contato visual, apesar de separados pela grade do portão. E essa virou a nossa rotina.

Fazia esses exercícios duas vezes ao dia, pela manhã e a noite. Não só buscava manter mais ou menos os mesmos horários para os exercícios, como tentava manter um padrão das coisas que fazia e até como me expressava. Ao repetir palavras, tons de voz e expressões em determinadas situações, os momentos tornam-se previsíveis para eles. Isso os ajuda a se sentir relaxados com a situação, sabendo que tudo vai ficar bem.

Adaptação Difícil II - Totí e Irá
Totí e Irá: contato visual reduzido e monitorado

Só que aí, Totí já estava ficando uma mocinha: estava castrada, tinha passado pelo pós-operatório e já estava totalmente adaptada a Jaguá. Ela queria muito explorar o mundo depois do portão e já estava difícil de segurá-la do lado de cá. Então comecei a fazer um “rodízio” com as meninas. Pela manhã, da hora que eu acordava até a hora de sair para o trabalho, soltava Totí pela casa e isolava Irá em meu quarto de dormir, ou no gabinete (o recinto de Totí). A noite, quando chegava, mais uma vez.

Os rodízios sempre começavam na hora do sachê, de modo a juntar o útil ao agradável. Eu ofereço uma colher de sopa (rasa) de sachê para cada, de manhã e a noite, o que dá 1 sachê por dia para os 3 gatos, além da ração seca que deixo disponível. *Converse com o seu veterinário antes de introduzir uma nova dieta aos seus gatinhos!

Adaptação Difícil II - Totí e Jaguá
Totí e Jaguá: brincadeiras e preguiça

À noite, enquanto Totí brincava lá fora, eu ficava no gabinete estudando ou vendo TV e Irá ficava junto. Percebi que ela se sentia a vontade e tranquila naquele tempo a sós comigo. Era nítido como ela parecia estar se sentindo muito mais segura e feliz em ficar ali ao meu lado do que do outro lado da porta, só com Jaguá. E Totí, por outro lado, estava adorando aproveitar a casa cheia de atividades e brincadeiras ao lado do irmãozinho. Jaguá, como sempre, tinha livre acesso ao quarto, pedindo para entrar ou sair quando queria.

Sem ter muitas opções para manejar o espaço aqui em casa, resolvi experimentar trocar as duas de lugar. Irá, então, passou a morar no gabinete, que é o local onde eu passo mais tempo quando estou em casa. Aproveitei esse tempo para realmente me dedicar a criar uma relação mais íntima com a minha “gatinha de enfeite”. Foi uma experiência deliciosa de conquista, confiança e amor.

Adaptação Difícil II - Irá
Irá e eu: finalmente começamos a nos aproximar de verdade

Enquanto isso, Jaguá tomava conta da irmãzinha, ensinando-a a subir nas prateleiras e a tomar sol de tarde na varanda. Confesso que deleguei ao meu filhote os cuidados com a irmãzinha. Sentia que precisava me dedicar muito a Irá e às vezes era bem difícil me dividir igualmente entre os três. Acho que Jaguá não sofreu mais porque ele é muito ligado a mim e, para ele estar bem, bastava que eu estivesse bem.

Porém, aos poucos, Totí e eu fomos perdendo a relação que tínhamos construído quando ela morava no gabinete. Ela passou a confiar mais em Jaguá do que em mim para defendê-la de Irá. Eu pensava que seria mais fácil reconquistá-la depois que me resolvesse com Irá. Porém, infelizmente, estava errada. Ao perder a minha referência, o medo de Totí aumentou ainda mais, o que continuava a alimentar a agressividade de Irá, reforçando um ciclo que parecia interminável! Portanto, hoje eu tentaria ao máximo fazer isso de forma diferente e me esforçaria mais para dividir melhor o tempo entre todos.

Adaptação Difícil II - Jaguá e Totí
Totí e Jaguá: confiança e cumplicidade

Essa série de ajustes que comecei a fazer nos exercícios foi essencial para retomar o controle da situação e estabelecer um clima minimamente favorável para continuar este longo processo. Ainda que aos trancos e barrancos, conseguimos fazer avanços importantes, mas, ao mesmo tempo, eu sabia que era só o começo. Ainda teríamos um longo caminho ainda a percorrer.

Para nós que vivemos essa louca, maravilhosa, estressante e surpreendente experiência que é uma adaptação longa e difícil entre gatinhos, a busca de informações fundamentadas, possibilidades e soluções reais, é algo constante e necessário. Na verdade, é a única saída possível do completo caos e o caminho para a conquista da paz!

Fique com a gente!

<3

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21 thoughts on “Irá x Totí: estratégias para uma adaptação longa e difícil (Parte II)”

  1. Luísa

    Minha dupla que conviveu tranquilamente por 4 anos depois de uma cirurgia odontológica também não se tolera mais . É realmente desesperador passar por isso. Um dos gatinhos começou a tomar fluoxetina pois fica muito incomodado com a restrição do ambiente. Fizemos vários exames e consultas para saber se tinha alguma outra explicação, mas nada! Agora chamei uma veterinária de comportamento. Gastei todas as minhas economias e meu companheiro é totalmente contra. Não tá fácil! Mas me deu uma pontinha de esperança a ideia do portão de tela. Vou por a mão na massa porque acho que vai funcionar! Obrigada pelo relato

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    1. Marla Rodrigues

      Oi, Luísa!

      Ah, que ótimo! Com a ajuda profissional, a medicação e o ambiente seguro e enriquecido para eles, tem grandes chances de dar certo, sim. Uma dica: não escute o marido rsrs. Vc vai conseguir gerir a situação!
      Boa sorte!

      Reply
  2. CLARISSA GIANNI

    Bom dia! Achei seu blog num momento de desespero e está sendo muito útil pra me dar esperanças. Não tinha achado nada parecido. Enviei um email contando um pouco mais do meu caso.
    Grata pelos conteúdos e pela entrega no blog! 🙂

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  3. Letícia Bonini

    Querida Marla! que benção encontrar esse blog, suas dicas tão detalhadas!!! hoje começo a ter uma ponta de esperança na minha situação aqui em casa com meus 3 gatos. Uma situação super parecida com a sua!!
    Faz 5 meses que eu trouxe o Simba, um macho de aproximadamente 1 ano, que é dominante, que veio da rua. Todo grandão (5kg) encorpadão , mas tranquilo – para uma casa com duas irmãs que sempre viveram aqui , vieram com 4 meses, e agora com 1 ano e 4 meses.(detalhe, elas são bem pequenas, magrelinhas, não cresceram muito, pesam nem 3 kg cada) …. E uma delas, a mais sensível e apegada (e carente) não o aceita de jeito nenhum. Com a casa dividida, as vezes que sem querer uma escapou para a área “dele”, foi surpreendida com um corre corre, rosnados e uma vez com os dentes dele no pescocinho!! E eu, me senti a pior tutora do mundo!!! Não queria considerar adoção do Simba, pois o que passei com ele (cura de sarna de ouvido e giárdia) quero cuidar dele , e não deixar para outra pessoa cuidar!!! Meu sonho para 2021 é ver a casa não dividida e eles tranquilos. Não precisam se lamber mas que não se peguem com violência!!!
    Há esperanças, não ?? 🙂

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    1. gatinhosproblema

      Oi, Letícia!

      Fico muito feliz que meus textos tenham te ajudado!
      Já nos falamos melhor pelo Instagram.

      Abraços,

      Marla

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  4. Cinthia Andreis

    Estou vivendo uma adaptação há 4 meses e tem dias que eu choro de desespero pensando em soluções pra todo mundo voltar a ser feliz…

    Adotamos uma gata adulta há um ano. Dois meses depois, fomos na ONG buscar a filha biológica dela e fizemos a adaptação conforme o que manda o figurino e foi horrível, cansativo, desgastante, deprimente, a gata mãe ODIOU a filha, rejeitou, e decidiu se isolar em cima do tanque, nao saiu de lá por duas semanas, miando chorando dia e noite, noite e dia, até que a ONG veio ver a situação e, por não ver esperança de melhora, levou a filhinha de volta pra mãe não morrer de tristeza. Ela voltou a ser feliz logo depois da filha ir embora e a filha hoje tem uma família maravilhosa, o que me conforta depois de tudo isso…

    Em dezembro eu decidi tentar de novo aumentar a família, me apaixonei por uma mãezinha q tinha tido 1 bebê somente, então adotamos as duas. Com a experiência anterior do isolamento sendo horrível para nós, fizemos diferente e já apresentamos elas de início. Minha gata mais velha reagiu melhor dessa vez, nao adoeceu, mas ja estamos em 4 meses de adaptação e a gata mais velha ainda ODEIA a irmã (em janeiro adotamos mais uma gata adulta, que a mais antiga não tem muito estresse com ela e também tolera a existência da bebê adotada em dezembro).

    Ate hoje rola treta, gritaria, se alguma gata se aproxima da mais velha: tapa, unhada, gritaria, correria, nunca sai de graça chegar a menos de 50cm dela.
    Às vezes alguém sai machucado, um sangue cá outro lá, sem danos graves, mas seguem a vida.

    Já está menos caótico que no início, embora não haja paz reinando, mas eu confesso que desejaria saber se um dia esse ódio é vencido pelo cansaço ou se a gata mais velha vai ser pra sempre infeliz por essa nossa escolha de adotar as outras gatas…

    Minha gata mais velha sempre foi um pedaço da minha alma, ela era MUITO feliz, infelizmente hoje eu sei que ela não é dorme muito mais, come muito mais (engordou meio kg e está com muito sobrepeso), sempre alerta e pronta pra atacar (pq se sente ameaçada, sai correndo logo após os ataques).

    Um dia isso passa será? Ela pode voltar a ser feliz, mesmo que só tolerando as irmãs e nao sendo amigas?

    Quero ter esperança em algum caso de sucesso…

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    1. gatinhosproblema

      Olá, Cinthia!

      Poxa, que situação triste… É muito frustrante ver que nossos bichinhos não estão felizes! Mas existem maneiras de você melhorar a situação da sua filhota e de todo o grupo. Será necessário muita paciência e dedicação! A informação será sempre o seu Norte. Quanto mais você aprender sobre o universo felino, como eles são na natureza, o que eles querem e precisam no seu ambiente, melhor será a qualidade de vida de todas as suas gatinhas!

      Vou indicar os textos que já escrevi sobre esses assuntos. Leia todos com carinho e atenção e se quiser tirar dúvidas, pode chamar.

      https://gatinhosproblema.com.br/2016/10/20/eu-gato-natureza-historia-curiosidades/
      https://gatinhosproblema.com.br/2016/10/20/logica-confusa-comportamento-felino/
      https://gatinhosproblema.com.br/2017/02/14/introducao-reintroducao-e-adaptacao-de-gatos-passo-a-passo/
      https://gatinhosproblema.com.br/2017/03/12/a-importancia-da-quarentena/
      https://gatinhosproblema.com.br/2018/04/04/enriquecimento-ambiental-1-necessidades-ambientais/
      https://gatinhosproblema.com.br/2018/12/05/enriquecimento-ambiental-2-stress-em-casa/

      Um abraço!

      Marla

      Reply
  5. Natalia

    Bom dia !
    Me vejo na mesma situação que vc . Já tem 50 dias que peguei um filhotinho e meu gato macho de 1 ano e meio não aceita de jeito nenhum m iniciei a adaptação de forma errada mas depois fiz o isolamento, exercício pela porta com e sem contato visual e nada. Em qualquer oportunidade o meu gato ataca o filhote, chegando a machucar. Li e reli suas dicas e anotei TDS. Estou muito triste e cheguei a procurar uma adoção responsável para o filhote e nada . Meu gato tomou calmante controlado recomendado pelo veterinário e n vimos efeito nenhum . Lendo seu relato , senti uma ponta de esperança. Vou fazer religiosamente TD certo . As diferença aqui é meu gato não ficou agressivo comigo. Ele vem no meu colo mesmo eu estando com cheiro de outro etc … ele não me arranha etc . É agressivo somente com o filhote, mas começou a marcar território pela casa . O engraçado é que apesar disso ele não reage muito a cheiro . Fica no quarto do filhote numa boa. Dome na caminha e no paninho do filhote sem o menor sinal de estresse, mas ao ver o filhote ele se transforma. Espero conseguir fazer te certinho com suas dicas

    Reply
    1. gatinhosproblema

      Oi, Natalia!

      É realmente uma situação difícil! Mas se você seguir o passo a passo direitinho e sem pressa, vai conseguir.
      Cada passo deve ser feito com muita calma e paciência, permanecendo na mesma fase até que os gatinhos mostrem calma total durante os exercícios de convivência. Só então que você avança para o próximo passo. Não importa quanto tempo isso vai demorar, isso é um investimento que você faz agora, para ter uma vida com gatinhos vivendo bem na mesma casa, tranquilos e livres de stress.
      Fique firme! Pode usar o nosso e-mail para dúvidas.
      Um abraço!

      Reply
  6. Danielle Cardoso

    Li o seu relato sobre a adaptação e estou passando pelo mesmo problema. Tenho 4 gatos e ganhei uma Maine Coon já adulta. Está muito difícil, tanto que já pensei em pedir a moça para buscá-la porque tenho muito medo de que algo ruim aconteça com meus outros 4. Tenho uma escaminha que não aceita a presença dela de jeito nenhum. Ataca e ela revida. Muito estressante essa situação. Não sei o que fazer e nem quanto tempo durará essa adaptação. Muito triste, não queria abrir mão dela mas não tenho sossego. E como não tenho espaço, separá-las é praticamente impossível. Estou sem saber o que fazer.

    Reply
  7. Tais

    Boa tarde! Gostaria de agradecer pelo blog! Estou passando por uma situação bem difícil e não sabemos como agir!
    Te mandei um e-mail desesperado! 🙁

    Reply
    1. gatinhosproblema

      Estou torcendo para que tudo dê certo! Parabéns pela sua nova gatinha!

      Um abraço!

      Reply
    2. Priscila

      Estou com um problema de readaptação de duas gatas adultas que conviveram por 8 anos. E depois de uma cirurgia em uma delas, a outra não a reconhece mais.
      Estou seguindo seu passo a passo, com algumas evoluções, mas acho que me precipitei em junta-las e ocorreu uma nova briga. Nesse caso será que preciso começar do zero novamente?
      Aproveito pra agradecer por compartilhar sua experiência, tao rica em detalhes. Foi o melhor conteudo que ja achei sobre o assunto.
      Gratidão

      Reply
      1. gatinhosproblema

        Olá, Priscila!

        Muito obrigada <3
        Isso é algo que realmente pode acontecer com gatos! É impressionante! Nesses casos, devemos agir como se fosse "a primeira vez". Ou seja, realizar o passo a passo da reintrodução do comecinho. Tenha paciência! Elas é que vão ditar o ritmo da evolução do processo.
        Calma, que vai dar certo, ok? Eu sei que pode parecer difícil, em alguns casos realmente é. Mas essas técnicas foram criadas baseadas no que os gatos fazem na natureza, quando precisam se aproximar. Então, o que devemos é proporcionar essa chance, criando as condições ideais para isso, que são esses passinhos.
        Devagar... e sempre!

        Boa sorte!

        abraços,

        Marla

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