Desde que comecei a colaborar com a causa animal (especialmente dos gatinhos) passei conviver com todo tipo de situação envolvendo bichos. Tem sido uma experiência muito forte e, algumas vezes, além do que eu mesma posso aguentar. Essa história começa com uma dessas situações horríveis e fora de controle, mas que logo se torna uma história de amor.
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Uma acumuladora de animais tinha mais de 70 animais em sua casa, vivendo numa situação completamente caótica e precisando de ajuda imediata.
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Um grupo de vizinhas se uniu para ajudar e foi quando descobrimos que haviam três gatinhos na casa, dois deles presos em gaiolas de hamster.
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Diante de uma situação muito difícil, precisei enfrentar o meu medo de desestabilizar o ambiente de harmonia que consegui criar entre meus gatos ao longo de tanto tempo.
Perto da minha rua vive uma senhora que muito equivocadamente acreditava que estava ajudando animais carentes. Já há muito tempo ela não conseguia dar conta das necessidades de tantos animais, por ser idosa e doente. Porém ela não entendia que aprisioná-los daquela forma também não os salvaria. A grande maioria desses animais vive entulhada em jaulas minúsculas e sujas, famintos e muito debilitados. O latido desesperado de dezenas de cães e a cena diária deles presos nas jaulas tornaram a vida dos vizinhos que amam animais um verdadeiro inferno.
Até que um dia, uma vizinha já muito cansada desse sofrimento todo, filmou a situação e lançou o vídeo no Facebook. Assim que vi o post compartilhado por uma amiga protetora, reconheci o local e me prontifiquei para ajudar. Formamos um grupo com outras vizinhas e fomos oferecer nossa ajuda.
No interior do imóvel foram encontrados ao todo 69 cães e 03 gatos em uma situação totalmente caótica. Vou preferir não entrar em detalhes, mas eram cenas tristes e muitas vezes grotescas, que me fizeram chorar todas as vezes que fui lá. Nosso grupo está ajudando, fazendo o que pode e também o que não pode, para tentar acabar com essa situação, mas confesso que o problema está longe de acabar.
Não me cabe julgá-la e muito menos tentar diagnosticar algum distúrbio mental, pois não sou nem juíza e nem psiquiatra. Mas a situação em que esses pobres animais ainda estão vivendo, certamente não é algo normal. Ao longo do tempo tentei buscar ajuda várias vezes, mas nunca obtive resposta. Nem dos políticos que se elegem com a bandeira da causa animal em minha cidade e muito menos do poder público.
Nos primeiros dias conseguimos doações de ração para aliviar a fome dos bichinhos. O grupo se uniu para dar banho nos animais, fazer a limpeza das jaulas, conseguiu a adoção de alguns cães e a remoção dos casos mais graves para lar temporário. Continuamos na ativa, buscando adoção, lar temporário, doações, toda ajuda possível!
Fiquei responsável pelos gatos do caso: ao todo, os 3 que estavam dentro da casa e mais duas que estão na rua da frente, com as quais vou realizar CED (Captura-Esterilização-Devolução), junto com os outros que frequentam a área. Com a ajuda de amigos que atenderam aos meus apelos por lar temporário e doações, consegui resgatar e castrar os 3 gatos, e todos já foram adotados!
De todos os gatinhos que salvei da situação, um macho pretinho foi o que mais sofreu. Ele foi ~resgatado~ pela senhora quando ainda era um filhote e colocado em uma jaula de hamster. Sim, isso mesmo que vocês estão lendo. O seu mundo passou a ser uma gaiola num quartinho pequeno, onde essa senhora rezava. Ficava no térreo da casa, perto dos canis e do terror do latido constante de dezenas de cachorros o dia inteiro. À medida que foi crescendo, o gatinho enfrentou a dificuldade de não poder nem ao menos caminhar em sua prisão. O seu corpinho que provavelmente nasceu saudável foi ficando atrofiado, sem nenhum tônus muscular e seus ossinhos foram crescendo tortos, por ficar sempre nas mesmas posições dentro da sua pequena jaula suja, onde vivia aterrorizado. Quando foi retirado da gaiola feita para um roedor minúsculo, o pobrezinho nem reagiu. Nunca mais vou esquecer do seu olhar.
Seguimos direto para o lar temporário na casa de uma amiga que se ofereceu para cuidar dos gatinhos resgatados das jaulas de hamster (uma fêmea e um macho), enquanto eu fui buscar cuidados para o outro gato que estava na casa. A gatinha estava assustada, mas logo se revelou uma fofinha sapeca, feliz por estar livre. Porém minha amiga ficou muito preocupada e apreensiva sobre estado deplorável de pânico que o pretinho se encontrava, além de aparentar bastante dificuldade para se mover. Durante cinco dias, ele mal saiu da caixinha de transporte.
Alguns dias depois, um pouquinho menos assustado mas ainda muito arredio, o gatinho preto foi encaminhado para castração. Ele foi mantido em observação na clínica e, apesar de não se deixar ser tocado, foi constatado que ao menos tem as funções de xixi e cocô aparentemente normais, além de um bom apetite. Ótimos sinais, para começar! Porém as suas sequelas físicas e psicológicas seriam um enorme empecilho para adoção, além de se tratar de um gato preto e adulto – que já sabemos que são os menos adotados…
De todos os resgates que fiz nesses últimos 3 anos, essa foi a situação mais difícil e complicada que passei. E esse gatinho com restrições de mobilidade, muito bravo e traumatizado, era um problema muito grande, até para pedir o favor a algum amigo meu de abrigá-lo. Diante disso, meu coração e minha razão me guiaram juntos e eu resolvi levá-lo comigo, nem que fosse temporariamente, enquanto um adotante especial surgisse. Ele precisava muito e as minhas dificuldades, apesar de reais, eram menores que as necessidades dele! Então, na quarta feira antes de começar o carnaval, o gatinho veio para minha casa, a princípio temporariamente. Hoje ele se chama Dudu e é o meu mais novo filhote!
Eu estava morrendo de medo. Minha vida virou de pernas para o ar desde a chegada de Totí aqui em casa, quando minha gata Irá não a aceitou de jeito nenhum. Escolhi lutar por elas, estudando muito e promovendo a adaptação das duas num processo muito lento, gradual e trabalhoso, mas também cheio de amor e muitos aprendizados. Se não fosse isso, não estaria aqui hoje falando com vocês! Mas sim, foi difícil e eu precisei de muita paciência, perseverança e também precisei esquecer da ideia de querer trazer um outro gato para casa, mesmo para fazer lar temporário. Então, claro que estava com medo que de uma hora para outra eu botasse a perder toda essa construção que fiz com minhas gatinhas, de nossa vida que hoje é normal e livre de problemas graves de comportamento.
Estávamos nos dias que antecedem o carnaval e eu ia receber visita em casa. Minha amiga Yoana que todo ano vem curtir a pipoca, agora ia dividir o quarto de hóspedes com um gato lindo (de quatro patas rs)! Quando ela chegou na cidade, combinamos de deixar a porta do quarto fechada, já que é onde Irá gosta de passar a maior parte do tempo. Então, a culpa da porta fechada era da Tia Yo! Rsrsrs.
Dois dias depois Dudu chegou. Entramos com ele discretamente e o colocamos no quarto, dispondo uma pequena infraestrutura necessária, como caixinha de areia, comida, água e brinquedos. Dudu logo se escondeu de baixo da cama e assim permaneceu por todo o carnaval. Desde então está se ambientando ao espaço “enorme” que agora ele tem sob a cama. Está se alimentando bem e indo ao banheiro normalmente, mas continua sem querer sair do seu cantinho.
Outro dia afastamos a cama para limpar e arrumar melhor o espaço para ele e tive a primeira chance de pegá-lo no colo. Muito assustado, tremendo demais, ele não só usou todas as suas unhas em mim, como urinou de medo. Esvaziou a bexiga toda em cima da mamãe rs. Fiz muito carinho, dei muitos beijinhos, abracei bem forte por muito tempo, até ele parar de tremer. E até ensaiou um ronron!!! Acho que foi o seu primeiro colinho <3
Enquanto isso, Jaguá, Irá e Totí começaram a perceber que a Tia Yoana tinha uma companhia felina no quarto dela. Mas como a casa não estava em sua rotina normal, eles ficavam observando de longe. Totalmente calmos, esboçaram pouca ou nenhuma curiosidade sobre o cheiro de gato novo, da caixa de areia, da comida e dos brinquedos dentro do quarto, além da Tia visitante.
A reação dos três, principalmente de Irá, tem realmente me surpreendido! Quando Totí chegou aqui em casa, Irá ficou transtornada apenas com o seu odor vindo do quarto fechado. Na primeira oportunidade, voou como um míssil teleguiado e atacou Totí com muita agressividade. Vê-la calma desse jeito me dá bastante alegria, mas ainda não comecei a introduzi-los visualmente e acredito que ainda deva demorar um pouco mais para isso.
Essa situação tem sido muito tocante para mim. Ver o estado emocional de Dudu já é uma tristeza, e agora que consegui tocá-lo e senti seus ossinhos tortos e músculos moles, sei que teremos um longo caminho de recuperação física e psicológica pela frente e precisarei ser forte.
Mas vamos nessa! Porque amor não me falta no coração e isso vai me mover a aprender tudo que eu precisar aprender e fazer tudo que precisar fazer para cuidar de meu novo filhote. Dudu já é amado como nunca realmente o foi e terá uma vida de amor e cuidados, junto com seus irmãozinhos Jaguá, Irá e Totí.
Terei prazer em dividir com vocês essa nova experiência, não só nas questões de adaptação entre gatos, como nos cuidados com a saúde física e mental de meu novo e amado filhote.
Seja bem-vindo, Dudu! Mamãe te ama demais.
<3
Texto e fotos: Marla.
Pingback: Meu Gatinho Dudu: 1 ano de liberdade! - Gatinhos Problema
Marla…seu blog está sendo uma bênção para mim….em saber que não estou sozinha nesse processo de adaptação….estou com o mesmo problema. Há 2 1/2 anos encontramos abandonada no sítio uma gatinha magra, esfomeada. Um mês depois adotamos de um Vet outra gatinha, como eram da mesma idade e do mesmo tamanho ambas se estranharam por uma semana apenas depois a transformaram nas melhores amigas. Foi uma tranquilidade até Abril deste ano, quando meu pai trouxe outra gatinha de 45 dias em estado de pena..ela não estava magra estava cadavérica. Isolei a gatinha nova na quarentena e depois comecei a introducao as novas irmãs. Luna se adaptou rapidamente mas minha Kitty é muito territorialista e se transformou igual a Irá em relacao a Totí…no mimino vacilo nosso, Kitty ataca a Bijou com unhas e dentes….como a Bijou ainda é pequena mantenho as duas isoladas e fazendo revezamento de cômodos em casa…comprei um produto chamado Feliway Friends…vc tem conhecimento deste produto? Se funciona? Espero que sim….pela paz em casa novamente. Meu sonho é ver as 3 convivendo em paz.
Oi, Ana Marta! Não está sozinha não! Os problemas de adaptação entre gatos estão cada vez mais comuns, já que, felizmente, o número de adoções de gatinhos vem aumentando bastante. Conheço o Feliway Friends sim, inclusive já usei. É um ótimo produto, mas na verdade é um coadjuvante em um conjunto de ações, que deve incluir isolamento dos gatos, enriquecimento ambiental, exercícios de convivência e rotina.
Mas estou aqui para ajudar! Qualquer dúvida, escreva para contato@gatinhosproblema.com.br
Um abraço!
Marla, belo trabalho, resultado de estudo, dedicação e amor!!! Parabéns!!!!!!!!!! Estou na torcida!! Um abraço!
Marlinha, vc é linda! Que Deus, que o Universo, continue iluminando seu coração, transbordando de amor para vc compartilhar com todos os seres que precisam.
Muito obrigada, Nanda <3 <3 <3
Pessoas como vc me dão ânimo. Tinha quatro gatos e resgatei a quinta. Lola simplesmente chegou tocando terror na galera. Bateu no casal alfa Nino E Maia(se é pode dizer alfa entre gatos) e peitou Valentina e Iuri. Tava tao estressada q só chorava. 4 meses de loucura e tentativas frustradas. Bastou minha mãe chegar c outra energia. E a situação parece estar melhorando.
Oi, Adriana! Que bom que as coisas estão se ajeitando por aí.
Realmente, quando os gatinhos brigam, nossa vida fica também uma bagunça! E ter calma é o primeiro e mais importante passo, até para conseguirmos ter clareza em nossas ações com eles.
Parabéns pelos seus gatinhos! Qualquer dúvida, escreva para contato@gatinhosproblema.com.br
Um abraço!
Marla
História triste, mas graças a Deus e a você teve um final feliz. Obrigada Marla.
Muito obrigada, Dinda! <3 <3 <3
Uma ótima caminhada de amor!
Obrigada, Ro! <3